domingo, 14 de dezembro de 2008

Em que mundo você vive?

No último dia 13 comemorou-se os 40 anos do Ato Institucional nº 5. Eu nem sonhava em nascer nessa época mas tenho a mais completa sensação de que continuamos vivemos numa ditadura velada. Continuamos vivendo nos sentindo aprisionados, vigiados, como se a qualquer momento fossemos privados da liberdade. E não acontece isso na vida mesmo? Em quantas pessoas você já confiou e acreditou e zap! com as intenções que estavam somente naquela cabecinha a sua vida se transformou, seu castelo desmorou e sobrou pra você limpar a sujeira, curar a ferida e ficar de pé? Por quantas coisas você se privou por acreditar? Quantas vezes você já ficou preso a um relacionamento, a um emprego, a uma situação que às vezes nem criou por causa de outros? Fora toda essa sensação externa de ser seguido, aprisionado e vigiado (porque afinal o que fazem o celular, o gps, as câmeras de segurança, a câmera que te filma no trânsito enquanto você inocentemente ouve seu sonzinho, esperando o farol abrir?) ainda te privam do que você deve saber. Liberdade de imprensa? Democratização? Nem tanto... Você tem opções? Só de mudar o canal ou deixar desligado, porque isso sim te salva de algum mal. A cultura é limitada e ainda hoje muito do que os conglomerados nacionais de comunicação poderiam fazer por você, são comandados pelos mesmos ou por filhos e netos daqueles que ocupavam as cadeiras da ditadura. Está na mão de poucos e sempre espertamente calculado para controlar aquilo que você deve saber ou que acham que será conveniente para suas vidas, seus anseios e contas bancárias.
Te privam inclusive de acreditar que o som mais libertário do planeta é para ser objeto de tortura. Não viu? Pois leia atentamente isso aqui que saiu no G1:
"Saindo de uma caixa de som em sua minúscula cela no Iraque, o rock virulento do Nine Inch Nails atinge o prisioneiro Nº 200.343 como um cacetete sônico. “Tinto como o sangue em seus dentes”, rosna em alto volume o vocalista Trent Reznor. A tortura sonora chega a durar dias, semanas e até meses no centro de detenção militar no Iraque, com AC/DC, Queen, Pantera. Donald Vance, de Chicago, conta ter se tornado um suicida.A tática ficou comum durante a guerra dos Estados Unidos no Iraque, Afeganistão e Guantánamo Bay. O general Ricardo Sanchez, comandante do exército no Iraque, autorizou a prática em 2003, como uma forma de “criar medo, desorientar e prolongar o choque.” Agora, os detentos não são os únicos a reclamar – os músicos estão se unindo para pedir ao exército americano que pare de usar suas músicas como arma. Uma campanha lançada nesta semana inclui grupos como Massive Attack e roqueiros como Tom Morello, do Rage Against the Machine e Audioslave. A ação consiste em promover minutos de silêncio durante shows e festivais, segundo explica a advogada Chloe Davies, que representa diversos detentos de Guantánamo Bay e é uma das organizadoras da iniciativa. “Sugiro que prendam George W. Bush numa cela e o torturem com Rage Against the Machine”, disse Morello em um de seus shows. Vance, que foi preso por relatar a venda ilegal de armas, estava acostumado ao rock ‘n’ roll. Mas, para muitos detentos que cresceram no Afeganistão – onde a música é proibida pelos talibãs – os violentos interrogatórios do exército americano marcaram sua primeira experiência com o gênero. Muitos não resistiram. Binyam Mohammed, hoje prisioneiro em Guantánamo Bay, diz que alguns companheiros de cela acabavam gritando e batendo as cabeças contra as paredes. “Tocaram música alta por 20 dias”, conta Vance, citando Eminem e Dr. Dre. “Também tive de ouvir hard rock sem parar. Muitos perderam a cabeça. Perdi as contas de quantas vezes ouvi ‘We will rock you’ do Queen. Você perde a capacidade de formular os próprios pensamentos num ambiente como esse.”

Quer mais?

"Até canções para crianças já foram utilizadas nessas práticas. Christopher Cerf, compositor da trilha de “Vila Sésamo”, diz ter ficado horrorizado quando descobriu que as músicas do programa infantil foram usadas em interrogatórios. “Eu não ia querer que minha música fosse parte disso.” Outros músicos, por sua vez, dizem ter ficado orgulhosos de terem suas canções usadas com esta finalidade. Stevie Benton, baixista do grupo Drowning Pool, se apresentou no Iraque e gravou uma das canções preferidas dos interrogatórios, intitulada “Bodies”. “As pessoas presumem que deveriam se sentir ofendidas por alguém no exército achar a sua música perturbadora o suficiente para acabar com um sujeito psicologicamente”, disse ele à revista “Spin”. “Fico honrado em pensar que talvez uma canção minha possa suprimir ataques como o de 11 de setembro.” Em entrevista por telefone à AP, Vance disse que a tortura pode transformar homens inocentes em loucos. “Eu não tinha lençol ou cobertor. Se tivesse, teria tentado suicídio.” Depois de 97 dias de tortura sonora, Vance foi libertado. “Hoje, mantenho minha casa em silêncio total”, diz.

Pois é...passe séculos, 40 anos e eu ainda me pergunto: tem limite para a crueldade da mente humana? Por que é que eu não me surpreendo?

Ouvindo:" You can´t bring me down" - Suicidal Tendencies