sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Sem muitos motivos pra comemorar



Um novo ano começou e mesmo sem acreditar em novas promessas ou que tudo parece zerar e recomeçar, a gente se sente como se virasse a página, trocasse a roupa e entrasse renovado, para retomar a rotina, continuar tudo de novo mas com o calendário zerado.Mas, a euforia acaba e basta passar uns poucos dias e você se dá conta que a vida continua igual e que pessoas nas autarquias tomam decisões que fazem você morrer de vergonha do país que você vive. É.. aqui não vivemos uma guerra como a gente conhece mas tão pior quanto ver o terror da bombas e corpos estraçalhados é viver num país de preconceitos encobertos, onde tudo fica subentendido nas entrelinhas e tudo se varre pra debaixo do tapete.
Em 2005, comemorou-se 30 anos da morte de Wladimir Herzog. E para explicar a história, não passar em branco e não nos deixar esquecer foi lançado documentário (http://www.cineweb.com.br/index_filme.php?id_filme=1567), várias matérias especiais e até um "Linha direta" especial do caso http://redeglobo.globo.com/Linhadireta/0,26665,GIJ0-5257-215892,00.html.


Um iugoslavo naturalizado brasileiro, formado jornalista pela USP, Vlado de nascença resolveu adotar o "Wladimir" para abrasilerar também seu nome, trabalhou na BBC de Londres, foi editor da revista Visão e diretor de jornalismo da TV Cultura.Era 1975, a ditadura já estava no fim, órgãos de censura já tinham sido aniquilados mas havia ainda uma parte do Exército que queria novamente a abertura do regime. Os jornalistas continuavam a ser perseguidos, numa outra escala mas não menos repressiva. Os agentes do DOI-Codi prenderam, torturaram e mataram pessoas que faziam parte do PCB. Começaram pela cúpula e foram até pessoas que simplesmente viam no partido a possibilidade de se reunir com outras pessoas com senso crítico. A tortura servia mais para aniquilar a possibilidade de resistência do que para obter alguma informação. Em outubro de 1975, eram 10 jornalistas detidos no DOI-Codi para "prestar esclarecimentos", quando Vladimir Herzog foi preso. Herzog foi para o DOI-Codi com o firme propósito de negar qualquer ligação com o PCB. Ele sabia que se admitisse as reuniões com membros do partido, a leitura de "A Voz Operária" ou a ajuda financeira eventual, todo o trabalho de TV pública que estava tentando implantar na Cultura se perderia. Em um embate desigual entre homem e torturadores, Herzog morreu. Para encobrir o crime, o II Exército montou uma farsa e divulgou que Herzog tinha se suicidado nas dependências do DOI-Codi. Clarice, a viúva, tinha certeza de que era mentira. Vlado tinha se apresentado no DOI-Codi, um conhecido centro de torturas do Exército, saudável e poucas horas depois apareceu morto. Houve testemunhas da tortura de Herzog. Na época, não havia um ministério público independente para que se movesse uma ação criminal. Os advogados a quem Clarice recorreu tentaram então uma ação inédita. A ação cívil de Clarice e filhos contra a União propunha que o Estado Brasileiro era responsável pela prisão ilegal, tortura e morte de Vladimir Herzog. Em 1978, a sentença foi favorável a Clarice Herzog.

No último dia 13, segundo a reportagem da Folha de SP (
http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u489601.shtml), a juíza federal Paula Mantovani Avelino, da 1ª Vara Criminal de São Paulo, arquivou os fatos que culminaram com a morte do jornalista Wladimir Herzog, em 25 de outubro de 1975. A decisão da juíza atendeu pedido de arquivamento do representante do Ministério Público Federal, que rejeitou pedido de procuradores da mesma instituição que sustentavam a imprescritibilidade de crimes contra a humanidade.
A punição da tortura cometida na ditadura voltou a ser discutida no ano passado, quando os ministros Tarso Genro (Justiça) e Paulo Vannuchi (Direitos Humanos) defenderam que eles são crimes contra a humanidade. E por isso seriam imprescritíveis. Essa opinião contrariou o ministro Nelson Jobim (Defesa) e os militares, que consideram que esses crimes foram anistiados pela Lei de Anistia, de 1979.

E aparentemente acabou assim. Duvido muito que isso mude na verdade, porque a quem interessa trazer essa história vergonhosa à tona? A profissão de jornalista é perseguida e marginalizada desde esses tempos...já falei disso aqui e nunca é demais lembrar. Você consegue entender pelo menos um pouquinho do porquê agora? Poder nas mãos dos mesmos e o resulado? Histórias como essa têm aos montes e um milhão motivos pra quase querer morrer de desgosto.
Mas, sejamos brasileiros, otimistas, estende a toalhinha quadriculada na mesa e feliz 2009 Brasil!
Começou bem... Vai calabresa ou mussarela?
Ouvindo NOFX "Murder the governement"

Nenhum comentário: